Indígenas querem ampliar participação no Fórum Social Mundial. Entrevista a Blanca Chancoso

Jorge Pereira Filho

Brasil de Fato (Minga informativa)

Quito, 23 de julio de 2004

 

Os indígenas não estão satisfeitos com a participação que vêm tendo no Fórum Social Mundial. “Não queremos ser convidados a ir ao Fórum, mas sim participar ativamente de todo o seu processo, inclusive nas decisões. Acreditamos que podemos compartilhar esse ideal de construir um novo mundo”, dispara a líder indígena Blanca Chancoso, coordenadora do Fórum Social Mundial Equador, em entrevista a Minga.

Blanca esteve em uma das mesas em que se debateu o tema durante a II Cúpula Continental dos Povos e Nacionalidades Indígenas. O encontro está ocorrendo em Quito, Equador, entre os dias 21 e 25, e reúne organizações indígenas de 24 países americanos.

 

O que os povos indígenas esperam do Fórum Social Mundial?

A discussão central aqui, hoje, teve objetivo fazer um intercâmbio entre populações indígenas para aprofundar o nosso conhecimento sobre as diferentes realidades de nossos povos. Outro objetivo foi discutir sobre como podemos participar desse outro mundo possível, pois até agora os indígenas não estão participando como deveriam. Queremos compartilhar esse ideal.

Como isso poderia ser realizado, na prática?

É importante primeiro que os movimentos sociais respeitem nossas tradições e que nós façamos alianças verdadeiras. Temos uma herança milenar e temos o objetivo em defender a vida, acima de tudo. Somos os mais afetados com a globalização, os Tratados de Livre Comércio (TLCs), a militarização. Por enquanto, estamos discutindo apenas politicamente para ver como nós, povos indígenas, podemos aumentar nossa integração e, depois, como nós podemos nos aliar também a povos empobrecidos pela neoliberalismo.

No Equador, o movimento indígena já alcançou esse nível de reconhecimento popular....

Sim, aquí, temos vivido um processo longo e se criou essa referência popular. Temos propostas e agimos dentro de princípios. Desenvolvemos um pensamento político coletivo. Queremos construir um Estado Plurinacional, que contenha o lema “a unidade dentro da diversidade”. Queremos reafirmar nossa identidade. Aqui, obrigamos o Estado a nos reconhecer. Em outros países, não há isso e talvez seja esse o motivo da nossa pequena participação ainda no Fórum Social Mundial.

O que vocês esperam do Fórum de 2004, em Porto Alegre?

Agora, queremos o reconhecimento de que os povos indígenas são uma aliança de povos. Além disso, não queremos ser convidados, mas ser parte integrante, ou seja, com igualdade de condições. Queremos sentar na mesa com o mesmo nível dos outros atores para discutir as linhas políticas do Fórum. Podemos contribuir muito nesse processo.

 

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